Porque a vida continua sempre, no “Há vida no
C2TN”, iremos publicar alguns testemunhos sobre a experiência de trabalho remoto,
vivida pelos membros do C2TN, em tempos de pandemia.
Hoje deixamos o primeiro testemunho...
Que avaliação faz da sua adaptação ao regime de teletrabalho? Quais foram os principais desafios desta mudança? Que oportunidades trouxe esta alteração? Que impacto teve na sua produtividade?
O regime de teletrabalho foi uma adaptação natural que teve de ser feita, como em qualquer circunstância nova que possa surgir nas nossas vidas. Numa altura em que me encontro numa fase já avançada de um doutoramento entre o C2TN e a Universidade de Coimbra, senti a certa altura alguma dificuldade. Esta paragem trouxe-me uma oportunidade de fazer uma retrospectiva do trabalho feito até à data, mas os primeiros dias foram mais produtivos do que os últimos. Seria mais chato para mim se tal pandemia tivesse surgido mais tarde. Contudo, e embora tenha tido a sorte de ter estado confinado num local simpático e acolhedor, preferia estar na minha “vida de estrada” a saltitar entre as minhas duas instituições de acolhimento.
O regime de teletrabalho foi uma adaptação natural que teve de ser feita, como em qualquer circunstância nova que possa surgir nas nossas vidas. Numa altura em que me encontro numa fase já avançada de um doutoramento entre o C2TN e a Universidade de Coimbra, senti a certa altura alguma dificuldade. Esta paragem trouxe-me uma oportunidade de fazer uma retrospectiva do trabalho feito até à data, mas os primeiros dias foram mais produtivos do que os últimos. Seria mais chato para mim se tal pandemia tivesse surgido mais tarde. Contudo, e embora tenha tido a sorte de ter estado confinado num local simpático e acolhedor, preferia estar na minha “vida de estrada” a saltitar entre as minhas duas instituições de acolhimento.
A pandemia evidenciou a existência de ferramentas de trabalho à distância, que talvez pudessem ser usadas regularmente em circunstâncias “normais”. Prevê no futuro continuar a usar algumas dessas ferramentas? Pretende adoptar sempre que possível o regime de teletrabalho?
De
facto, a pandemia conseguiu evidenciar uma série de ferramentas já existentes,
mas quase desconhecidas para algumas pessoas. Teve que existir uma adaptação
não só do sector da ciência, mas de todos os sectores a um regime que foi uma
novidade para muitos. O teletrabalho apenas era uma realidade para um grupo
restrito de pessoas e, dada a pandemia, tornou-se numa alternativa para grande
parte dos trabalhadores. Como a maioria dos resultados em ciência provêm de uma
forte componente laboratorial, a investigação científica foi um sector bastante
penalizado pela pandemia. Contudo, existem vantagens e desvantagens no
teletrabalho assim como existem pessoas que têm mais condições para usufruírem deste
regime do que outras. Aprendi imenso com estas ferramentas, tive algumas ideias
novas durante o confinamento, mas continuo a não ser grande adepto de trabalhar
em casa. Mesmo que não tenha parte laboratorial para fazer gosto de estar no
meu local de trabalho a escrever ou a tratar de resultados, a minha
produtividade tende sempre a ser maior. Porém, julgo que no futuro o
teletrabalho passará a ser algo recorrente em qualquer sector, e a ciência não
será excepção.
Como antevê o regresso ao trabalho presencial? Sente-se seguro? Sentiu-se apoiado, informado pela sua instituição? Como avaliaria a interação do Técnico e do C2TN, em particular, com os seus membros?
Já
regressei ao meu trabalho em Coimbra com as devidas precauções, sinto-me seguro,
não há turnos pois não há muita gente a trabalhar. Depois de uma rotina
intensa, entre duas cidades que distam 200 quilómetros uma da outra, custa
parar assim como custa voltar à mesma rotina depois de um longo período de
paragem. Com isto acabei por sentir duas ressacas distintas, uma no início do
teletrabalho e outra no regresso ao trabalho presencial, mas que atenuaram rapidamente.
O tempo perdido é sempre algo que terá que ser recuperado ao máximo,
independentemente de eventuais prorrogações dos financiamentos a bolsas e
projectos. Ter de andar de máscara dentro dos edifícios, evitar o contacto
social, lavar constantemente as mãos é uma realidade a que todos estamos
sujeitos. No que toca à interacção do Técnico e do C2TN com os seus membros
acho que está tudo a ser muito bem organizado, por aquilo que oiço de alguns
colegas que já regressaram. Houve uma divulgação clara, sem qualquer avalanche
de notícias e regras a toda a hora nos e-mails, e julgo que este regresso
gradual terá tudo para correr bem. Como existem projectos prioritários que
estão a acabar, e um limite fixo de pessoas em cada laboratório, não sei quando
deverei regressar ao CTN, embora já sinta saudades!
A pandemia veio mostrar que é possível, até por vontade política, a mobilização para uma alteração global de comportamentos. Considera que existe aqui uma oportunidade para pensar em como se pode efetivamente implementar políticas, por exemplo, em relação às mudanças climáticas e boas práticas para um futuro sustentável?
Acredito
que haja uma alteração de certos comportamentos, mas nada que seja tão drástico
quanto isso. Sou um pouco céptico quanto à questão de que “as coisas vão mudar”
depois da pandemia, como há quem faça parecer. É certo que não estávamos
preparados para algo desta dimensão e hoje sabemos como agir no futuro, pois o
vírus não desapareceu e uma situação idêntica pode voltar a repetir-se. Iremos
ter todos os cuidados e precauções necessárias no início, mas não deverá
demorar muito até que as pessoas no geral voltem às mesmas atitudes que tinham
antes. Vêm aí tempos que serão difíceis, do ponto de vista socio-económico, e a
ciência também irá certamente sofrer muito com isso. Nas eventuais medidas que
possam surgir para o combate a uma crise eminente, será necessária a inclusão
de políticas que promovam a sustentabilidade e as boas práticas no futuro, valorizando
as questões ambientais e alertando para possíveis riscos, tudo isto longe da
complacência e do fanatismo gerado pelas fake
news. Independentemente de vir a existir uma eventual vacina ou tratamento,
cabe a todos nós contribuir para execução e valorização dessas mesmas práticas de
modo a que possamos aprender a viver novamente, regressando ao que éramos
dantes, e ao que ainda hoje somos.
Zé Malta, estudante de doutoramento no C2TN e CFisUC