Dado que hoje, dia 30 de Outubro, se assinala o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama, porque não falarmos de factos e mitos associados à mamografia - exame médico utilizado para rastreio do cancro da mama?
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Sabia que o processamento por radiação ionizante garante a segurança e qualidade dos alimentos?
Conheça a opinião de Sandra Cabo Verde, investigadora do C2TN:
"Os alimentos
enriquecem-nos o corpo e a alma… neles assenta grande parte da nossa saúde e
bem-estar. São os nutrientes e a energia para o nosso corpo funcionar, e também
cor, aroma, palato, numa fusão de satisfação para os nossos sentidos. A nossa
alimentação tem evoluído nos últimos anos em busca do nutricionalmente
adequado, da frescura saudável, como uma nova forma de consciência da sociedade
moderna a voltar às raízes. Contudo, os alimentos podem ser veículos de doenças
e pragas quando não são devidamente processados. A eliminação ou redução dos
microrganismos nos alimentos torna-se especialmente importante para melhorar a
dieta alimentar de doentes imunodeprimidos, idosos e crianças.
A irradiação
de alimentos é um processo de tratamento com mais de 50 anos de investigação
documentada, aprovada e regulada por diversas organizações mundiais (UE, AIEA,
FAO e OMS). Esta tecnologia garante a segurança e preservação alimentar e a
fitossanidade, sendo utilizada comercialmente em cerca de 40 países para processar
mais de 40 géneros alimentícios. Na União Europeia é permitido o processamento
por irradiação de ervas aromáticas secas, especiarias e condimentos.
Este
processo baseia-se na exposição dos alimentos a uma quantidade controlada de
radiação ionizante, ou seja, não é mais do que um processo físico de
tratamento, que inactiva os microrganismos à temperatura ambiente (ou a uma
temperatura próxima), mantendo as propriedades funcionais e organolépticas dos
alimentos. A irradiação é assim uma alternativa para o processamento de
alimentos sensíveis à temperatura, como as frutas frescas e vegetais,
permitindo aumentar o seu tempo de prateleira. Além disso, a irradiação não
requer a utilização de substâncias químicas, não deixando resíduos, que têm
frequentemente um efeito nocivo para a saúde pública e ambiente. Esta
tecnologia tem igualmente a vantagem de os produtos poderem ser processados nas
embalagens finais, o que reduz a possibilidade de contaminação cruzada até este
ser utilizado pelo consumidor.
A investigação
nesta área consiste no estudo da aplicabilidade desta tecnologia aos mais
diversos produtos alimentares, como alimentos étnicos, refeições prontas,
rações para militares e vítimas de calamidades; de forma a promover a
variabilidade e disponibilidade de alimentos seguros e com qualidade para
todos. Outra área de crescente investigação é o aumento da capacidade de
extrair produtos bioactivos naturais de alimentos através do processamento por
irradiação. O objectivo é a obtenção de compostos naturais com propriedades
anticancerígenas, anti-inflamatórias, e antimicrobianas que promovam a nossa
saúde. Para quem tiver a curiosidade de aprofundar sobre este tema saiu no
início deste ano um livro da Royal Society of Chemistry que apresenta o
estado-da-arte das Tecnologias de Irradiação de Alimentos.
A irradiação
de alimentos por si só não é uma panaceia - não é adequada para todos os
alimentos, nem resolve todas as questões de segurança alimentar e fitossanitária.
Mas, no futuro, a irradiação de alimentos poderá ter um papel crucial para
garantir a segurança e qualidade dos alimentos, evitando a propagação de
espécies invasivas e facilitando a comercialização."
Porque hoje dia 16 de Outubro se assinala o Dia Mundial da Alimentação, porque não falar sobre Irradiação de Alimentos e das suas vantagens.
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Veja as doses associadas a alguns exames e como estas se podem comparar com o tempo de exposição à radiação natural...
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Se tiver alguma questão ou comentário, não hesite em contactar-nos!
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E SE O PATRIMÓNIO FALASSE
II. Autenticidade e datação absoluta do Património Cultural por técnicas de Luminescência
"Património: onde o passado encontra o futuro"
É sob este lema que se celebra, pela primeira vez, o Ano Europeu do Património Cultural. Esta iniciativa da União Europeia tem em vista a consagração e sensibilização das populações para a história e o património europeu, uma iniciativa a ser aplicada a todos os níveis: europeu, nacional, regional e local. O C2TN decidiu abraçar esta iniciativa através de uma série de artigos de divulgação do trabalho que se faz no nosso centro, que serão publicados ao longo do ano. Do que está à espera? Venha descobrir e explorar o património cultural de Portugal connosco. Aqui vos deixamos o segundo artigo.
Autenticidade e datação absoluta do Património Cultural por técnicas de Luminescência
Arqueometria
Diversas técnicas de análise física e química têm sido amplamente usadas no estudo sistemático de objetos e materiais do património cultural.Os estudos histórico-arqueológicos realizam-se essencialmente numa perspetiva crono-tipológica e descritiva. A contribuição de várias técnicas instrumentais de análise e a colaboração de químicos, físicos, geólogos e outros especialistas, dentro da ciência e tecnologia de materiais, têm possibilitado estudos mais completos, dada a contribuição científica que fornecem essas técnicas e a interpretação interdisciplinar dos resultados obtidos.Estes estudos arqueométricos visam dar resposta a questões colocadas essencialmente por arqueólogos, historiadores de arte e conservadores, relacionadas com: (a) identificação das matérias-primas utilizadas; (b) conhecimento da origem e proveniência dos materiais do património cultural; (c) tecnologia(s) empregue(s) na sua produção; (d) cronologia dos objetos manufaturados e/ou contextos; (e) contribuição para estudos de padrões de distribuição e circulação dos mesmos.
No C2TN, e em particular no grupo de Engenharia e Técnicas Nucleares (ETN), estas questões são abordadas com recurso a técnicas micro e não invasivas que, de uma forma interdisciplinar, permitem obter informação sobre a composição química e mineralógica, e dosimetria de materiais geológicos e arqueológicos e de artefactos pré-históricos e históricos, respondendo a qualquer uma das questões acima referidas.
Irá aqui ser dada particular ênfase aos estudos cronológicos / autenticidade com recurso a técnicas de luminescência, fundamentais nas situações em que os materiais a datar não são de natureza orgânica, sendo assim um método complementar ao do 14C, permitindo também fornecer idades de maior amplitude temporal.
Luminescência – Autenticidade, cronologia e sequências deposicionais associadas a artefactos e contextos arqueológicos/históricos
A luminescência é um processo físico de emissão de luz que se relaciona com a energia acumulada na rede cristalina dos minerais. De onde vem essa energia? Essa energia é acumulada ao longo do tempo pela radiação ionizante que existe naturalmente num material e/ou no seu ambiente. É depois libertada e determinada em laboratório, com recurso a equipamento específico que promove o estímulo ótico (“optically stimulated luminescence” – luminescência estimulada opticamente – OSL) ou térmico (“thermoluminescence” – termoluminescência - TL), sendo registada a intensidade da luz emitida, o que permite quantificá-la na forma de dose absorvida (Gy).
Por norma são estudadas as propriedades luminescentes dos silicatos, como o quartzo e os feldspatos. E porquê os silicatos? Porque estes são mais resistentes, logo mais comuns em sedimentos detríticos e artefactos produzidos a partir de geomateriais. A luminescência tem sido amplamente aplicada em estudos de cronologia, tanto em materiais geológicos como do património cultural. Esta técnica apresenta como vantagem, relativamente a outros métodos de datação absoluta, a possibilidade de datar objetos e contextos desprovidos de matéria orgânica, ou ainda se a cronologia exceder o limite da datação possível por radiocarbono (40000 anos BP - "Before Present", um termo usado em datação que tem por base o ano de 1950). Por luminescência é possível datar amostras de 100 a 350000 anos. Outra vantagem da datação por luminescência é o método fornecer uma idade para o artefacto/depósito propriamente dito e não para o material orgânico que lhe está associado.
Para além da datação, as técnicas de luminescência permitem estudar a dinâmica de acumulação de sedimentos, útil quando se estudam contextos arqueológicos com estruturas negativas (fossos, fossas, hipogea) pois permitem distinguir como decorreu a acumulação. Possibilitando identificar pelo estudo da sequência das doses absorvidas em função da profundidade, se ocorreu uma acumulação rápida ou lenta de materiais, traduzida respetivamente em eventos decorrentes da ação humana ou de fenómenos climáticos extremos, e eventos que ocorreram lenta e naturalmente ao longo dos anos. Também contribuem para identificar eventos de construção, ocupação e abandono de estruturas e contextos arqueológicos, bem como para identificar e caracterizar eventos de aquecimento, como por exemplo a cozedura de uma peça de cerâmica. Isto porque diferentes temperaturas e tempos de exposição conferem comportamentos distintos nos sinais de luminescência estimulada nos grãos de quartzo constituintes das pastas cerâmicas. Isto, por sua vez, permite inferir para além da tecnologia de produção, a idade de luminescência da peça.
Para além dos estudos de datação absoluta de contextos e artefactos pré-históricos e históricos, a luminescência pode ser particularmente útil em estudos de autenticação de objetos do património.
A autenticidade de peças do património cultural é obtida a partir da determinação da dose absorvida nos minerais constituintes, permitindo distinguir produções pré-históricas / históricas de falsificações recentes.
A datação por luminescência baseia-se na seguinte equação:
Idade (a) = dose absorvida (Gy) / taxa de dose (Gy/a)
A taxa de dose nos materiais corresponde à dose acumulada pelo material a datar, por unidade de tempo. A taxa de dose é estimada através de análises químicas e dosimétricas dos materiais a datar e do ambiente que os envolveu. Estes estudos de luminescência idealmente devem ainda ser acompanhados de estudos composicionais, químicos e mineralógicos, que contribuam para um melhor entendimento da natureza e dos processos de produção dos artefactos e dos contextos em estudo.
No C2TN, dispomos do equipamento e do conhecimento necessários para efetuar datação por luminescência e testes de autenticidade. Temos em curso vários projetos de investigação neste domínio, muitos deles em parcerias interdisciplinares nacionais e internacionais com outras universidades, unidades de investigação, museus, arqueólogos, empresas de arqueologia, historiadores de arte. Também respondemos com frequência a dúvidas individuais, que nos são colocadas relativas à data/autenticidade de objetos do património cultural.
Caso de estudo – Autenticidade/Datação por luminescência de uma peça de terracota da civilização Bura-Asinda-Sika
Partilhamos aqui uma de muitas histórias, a de uma peça de terracota da civilização Bura-Asinda-Sika pertencente ao espólio da coleção Berardo. Esta coleção inclui peças típicas de Bura, as quais fizeram parte da exposição intitulada “Alma Africana”, promovida pela Câmara Municipal de Lisboa (de outubro de 2009 a fevereiro de 2010 na galeria Páteo da Galé). Fomos contactados no sentido de estudar e comprovar a autenticidade da peça; trabalho que foi divulgado no catálogo da exposição.
O sítio arqueológico de Bura-Asinda-Sika, região de Tillaberi, República do Níger, é um complexo arqueológico de urnas em cerâmica. Os estudos tipológicos e de datação absoluta por radiocarbono apontam para que o sítio tenha sido usado como necrópole entre os séculos III e XI d.C. Dada a descontextualização da peça, pretendeu-se confirmar a sua atribuição à cronologia da civilização Bura-Asinda-Sika, de forma a verificar a sua autenticidade, através de técnicas de luminescência aplicadas por cientistas do C2TN.
A abordagem metodológica envolveu: 1) aplicação de protocolos de preparação laboratorial para a datação por luminescência e estudos composicionais; 2) medição da dose absorvida pelos grãos de quartzo extraídos da pasta da terracota; 3) determinação da composição mineralógica e química (em particular os radionuclidos naturais K, Rb, Th e U) da pasta da terracota; 4) cálculo da taxa de dose tendo como base as análises químicas (teor em radionuclidos) e uma estimativa da dosimetria ambiental.
A composição mineralógica e a ausência de fases de alta temperatura sugerem que a peça de terracota analisada foi produzida a temperaturas de cozedura não muito elevadas, que não ultrapassaram os 800 - 900 ºC. De qualquer modo, estas temperaturas foram suficientes para reduzir e/ou eliminar o sinal de luminescência do quartzo, correspondente à dose acumulada desde a sua génese, colocando o relógio a 'zero'. Isto permitiu que este mineral fosse usado como dosímetro, ou seja como “cronómetro”, pois toda a dose absorvida está relacionada com o tempo que passou desde a cozedura da peça de terracota até ao momento da análise no laboratório.
Na impossibilidade de reconstituição dosimétrica da peça de terracota e respetivo ambiente, o parâmetro da taxa de dose foi estimado com base numa série de pressupostos e modelações do ambiente externo da peça de terracota. O cálculo da dose absorvida foi conseguido de forma precisa e exata nos grãos de quartzo.
A abordagem metodológica efetuada permitiu caracterizar composicional e dosimetricamente a peça assim como autenticá-la. Foi também possível atribuir-lhe uma idade de luminescência, e, dentro do erro da determinação, enquadrá-la na cronologia expectável.
Authenticity and absolute dating of Cultural Heritage by using Luminescence techniques
Archaeometry
Several techniques of physical and chemical analysis have been used in the systematic study of objects and materials of cultural heritage.
Historical-archaeological studies are mostly performed from a chrono-typological and descriptive perspective. The contribution of several instrumental techniques of analysis and the collaboration of chemists, physicists, geologists and other specialists from the science and technology of materials enabled an interdisciplinary interpretation of data.
These archaeometric studies aim to answer questions posed mainly by archaeologists, art historians and curators that are related to: (a) identification of the used raw materials; (b) origin and provenance knowledge of cultural heritage assets; (c) technologies employed in its production; (d) chronology of manufactured objects and/or contexts; (e) contribution to establish patterns of distribution and circulation of both objects/raw materials.
Several techniques of physical and chemical analysis have been used in the systematic study of objects and materials of cultural heritage.
Historical-archaeological studies are mostly performed from a chrono-typological and descriptive perspective. The contribution of several instrumental techniques of analysis and the collaboration of chemists, physicists, geologists and other specialists from the science and technology of materials enabled an interdisciplinary interpretation of data.
These archaeometric studies aim to answer questions posed mainly by archaeologists, art historians and curators that are related to: (a) identification of the used raw materials; (b) origin and provenance knowledge of cultural heritage assets; (c) technologies employed in its production; (d) chronology of manufactured objects and/or contexts; (e) contribution to establish patterns of distribution and circulation of both objects/raw materials.
At C2TN, and in particular in the Nuclear Engineering and Techniques (NET) group, these issues are addressed using micro and non invasive techniques, which, in a interdisciplinary way allow us to obtain information about the chemical and mineralogical composition, as well as dosimetry of geological and archaeological materials, and pre-historical and historical artefacts, answering any of the above questions.
We intend to enhance here chronological / authenticity studies, by using luminescence techniques. Luminescence dating is particularly useful in non-organic materials, complementing 14C dating, and also providing ages with higher temporal ranges.
Luminescence – authenticity, chronology and depositional sequences associated to archaeological/historical artefacts and contexts
Luminescence is a physical process of light emission that is related to the energy accumulated in a mineral crystal network. Where does that energy come from? That energy is accumulated through time by the ionizing radiation that occurs naturally in a material and/or in its environment. This energy can then be released and determined in a laboratory using appropriate equipment, promoting optically or thermally stimulated luminescence (optically stimulated luminescence – OSL; thermoluminescence – TL). The light emission is measured as absorbed dose (Gy).
We intend to enhance here chronological / authenticity studies, by using luminescence techniques. Luminescence dating is particularly useful in non-organic materials, complementing 14C dating, and also providing ages with higher temporal ranges.
Luminescence – authenticity, chronology and depositional sequences associated to archaeological/historical artefacts and contexts
Luminescence is a physical process of light emission that is related to the energy accumulated in a mineral crystal network. Where does that energy come from? That energy is accumulated through time by the ionizing radiation that occurs naturally in a material and/or in its environment. This energy can then be released and determined in a laboratory using appropriate equipment, promoting optically or thermally stimulated luminescence (optically stimulated luminescence – OSL; thermoluminescence – TL). The light emission is measured as absorbed dose (Gy).

Usually, these studies are based on the luminescence properties of silicates such as quartz and feldspars. And why silicates? Because they are more resistant and, therefore, more common in detrital sediments and artefacts produced from geomaterials. Luminescence techniques have been applied to solve chronological issues of both geological and cultural heritage materials. Compared to other absolute dating methods, luminescence dating is particularly appropriate when radiocarbon dating is not possible (either where no suitable material is available or for ages beyond the radiocarbon age limit - 40000 years BP - "before present", a term used to describe dates that is based on the year 1950). By luminescence it is possible to date samples from 100 to 350000 years. The particular advantage of luminescence dating is that the method provides a date for the archaeological artefact or deposit itself, rather than for organic material in assumed association.
Besides absolute dating, luminescence techniques can be used to study sediments accumulation giving insights into processes and landform dynamics. This can be particularly useful when studying archaeological material accumulated in negative structures (ditches, pits, hipogea). It contributes to better distinguish rapid accumulation of materials as a result of human actions or severe weather events, from slow accumulation that occurs over the years. This technique can also contribute to identify events of construction, occupation and abandonment of archaeological structures and contexts, as well as to identify and characterize firing processes such as the ones related with the production of ceramics. Different temperatures and exposure times result in characteristic luminescence signals from the quartz and feldspar present in the ceramic pastes, allowing to obtain relevant data concerning production technology and luminescence age.
In addition to absolute dating of prehistoric and historical contexts and artifacts, luminescence can be particularly useful in cultural heritage authentication.
The authenticity of cultural heritage assets is obtained by the determination of the absorbed dose in minerals, distinguishing pre-historical/historical productions from recent forgeries.
Luminescence dating is based in the following equation:
The dose rate in the materials corresponds to the accumulated dose per unit of time. The dose rate estimation is obtained by chemical and dosimetric analysis of the material under study, and of the surrounding environment. These luminescence studies should ideally be complemented with chemical and mineralogical compositional studies, allowing a better understanding of the production of artefacts and related contexts.
At C2TN we have the equipment and know-how of luminescence dating and authenticity tests. We have several research projects in this scientific field, in national and international interdisciplinary research teams, with other universities, research units, museums, archaeologists, archeology companies, and art historians. We also frequently respond to individual doubts regarding the date / authenticity of cultural heritage objects.
The authenticity of cultural heritage assets is obtained by the determination of the absorbed dose in minerals, distinguishing pre-historical/historical productions from recent forgeries.
Luminescence dating is based in the following equation:
Age (a) = absorbed dose (Gy)/dose rate (Gy/a)
The dose rate in the materials corresponds to the accumulated dose per unit of time. The dose rate estimation is obtained by chemical and dosimetric analysis of the material under study, and of the surrounding environment. These luminescence studies should ideally be complemented with chemical and mineralogical compositional studies, allowing a better understanding of the production of artefacts and related contexts.
At C2TN we have the equipment and know-how of luminescence dating and authenticity tests. We have several research projects in this scientific field, in national and international interdisciplinary research teams, with other universities, research units, museums, archaeologists, archeology companies, and art historians. We also frequently respond to individual doubts regarding the date / authenticity of cultural heritage objects.
Case study – Authenticity/Luminescence dating of a terracotta object from the Bura-Asinda-Sika civilization
We share here one of our many stories, the story of a terracotta object from the Bura-Asinda-Sika civilization that belongs to the Berardo collection. The Berardo collection includes typical objects from Bura, which were part of an exhibition entitled “Alma Africana” (African soul), promoted by the municipality of Lisbon (from October 2009 to February 2010 at Páteo da Galé gallery). The main aim was to study and confirm the authentiticy of the object; the work has been published in the catalog of the exhibition.
The Bura-Asinda-Sika archeological site, located in the Tillaberi region in the Niger Republic, is an archeological complex of ceramic urns. Typological studies and radiocarbon absolute dating suggest that the site had been used as a necropolis between the III and the XI centuries A.C. The main aim was to confirm the attribution of the object to the chronology of the Bura-Asinda-Sika civilization, in order to confirm their authenticity, by using luminescence techniques applied by C2TN scientists.
The methodological approach was as follows: 1) application of specific laboratory protocols of preparation of samples for luminescence dating and compositional studies; 2) measurement of the absorbed dose of the quartz grains extracted from the terracotta paste; 3) determination of the mineralogical and chemical (particularly the natural radionuclides content K, Rb, Th, U) composition of the terracotta; 4) Dose rate evaluation by using chemical analyses (radionuclides contents) and an estimation of the environmental dosimetry.
The methodological approach was as follows: 1) application of specific laboratory protocols of preparation of samples for luminescence dating and compositional studies; 2) measurement of the absorbed dose of the quartz grains extracted from the terracotta paste; 3) determination of the mineralogical and chemical (particularly the natural radionuclides content K, Rb, Th, U) composition of the terracotta; 4) Dose rate evaluation by using chemical analyses (radionuclides contents) and an estimation of the environmental dosimetry.
The mineralogical composition and the absence of high temperature phases points to low firing temperatures (lower than 800-900 °C) of the terracota production. These temperatures, albeit relatively low, are enough to reduce and/or eliminate the geological luminescence signal accumulated in the quartz, setting the clock to 'zero'. This allowed to use this mineral as a dosimeter, that is a “chronometer”. The determined absorbed dose is related with the time spent since the last heating of the object (production) until the moment of analysis at the laboratory.
In the impossibility of a dosimetric reconstitution of the terracotta object and its environment, the dose rate parameter was estimated based on a series of assumptions and modeling of the external environment of the terracotta object. The calculation of the absorbed dose in the quartz grains was achieved precisely and accurately.
The methodological approach used allowed to characterize the composition and dosimetry of the terracotta object, as well as to authenticate it. It was also possible to obtain a luminescence age that within the error of the determination, fit into the expected chronology.
Work authored by Ana Luísa RodriguesIn the impossibility of a dosimetric reconstitution of the terracotta object and its environment, the dose rate parameter was estimated based on a series of assumptions and modeling of the external environment of the terracotta object. The calculation of the absorbed dose in the quartz grains was achieved precisely and accurately.
The methodological approach used allowed to characterize the composition and dosimetry of the terracotta object, as well as to authenticate it. It was also possible to obtain a luminescence age that within the error of the determination, fit into the expected chronology.
Alguma vez pensou qual a utilidade das radiações ionizantes? Nós temos algumas ideias. Por exemplo, para irradiação de efluentes da indústria corticeira. Saiba como e porquê.
Quer saber mais? Contacte-nos.
Sabendo que a exposição a radiação ionizante acarreta potenciais riscos para a saúde, alguma vez se interrogou como os trabalhadores se podem proteger? Aproveitando que hoje, 28 de Abril, é o Dia Internacional para a Segurança e Saúde no Trabalho, nós explicamos.
Hoje, dia 7 de Abril, celebra-se o Dia Internacional da Saúde que coincide com o aniversário da fundação da Organização Mundial da Saúde. O tema escolhido pelo C2TN para assinalar esta data é a Medicina Nuclear, uma especialidade médica que se baseia em ciências e tecnologias nucleares aplicadas à Saúde. Apresentamos assim um estudo desenvolvido no C2TN no âmbito da Medicina Nuclear e relevante para doentes pediátricos.
Aplicações da radiação ionizante em Medicina Nuclear
As aplicações da radiação ionizante estendem-se a um vasto conjunto de domínios. Um deles é a Saúde, com a sua utilização no diagnóstico e tratamento de doenças. Nas últimas décadas, têm-se observado grandes avanços tecnológicos nas aplicações médicas da radiação ionizante que têm servido para melhorar significativamente a capacidade de diagnóstico e tratamento de diversas patologias, incluindo o cancro, doenças neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson), cardiovasculares, entre outras.
No caso particular da Medicina Nuclear, a aplicação das radiações ionizantes implica a utilização de radiofármacos: moléculas ligadas a átomos que se desintegram emitindo radiação ionizante e que possuem afinidade para determinados órgãos ou tecidos
específicos dentro do corpo. Como estes radiofármacos emitem radiação, a sua detecção é possível utilizando equipamentos próprios para o efeito, tais como os PET/TC, Câmara Gama, etc, permitindo desta maneira visualizar o interior do corpo humano para fins de diagnóstico.
A Medicina Nuclear não esteve alheia aos referidos avanços tecnológicos. O desenvolvimento de novos radiofármacos e o progresso tecnológico nos equipamentos de imagem como SPECTs e PETs fez com que a frequência anual destes exames aumentasse no mundo e em Portugal. De acordo com os dados mais recentes, entre 2010 e 2014 realizaram-se, anualmente, cerca de 160 mil exames de Medicina Nuclear em adultos em Portugal.
Medicina Nuclear em doentes pediátricos
Dos muitos exames de Medicina Nuclear realizados anualmente, uma parte é realizada em crianças. O principal exame de Medicina Nuclear realizado em doentes pediátricos é a cintigrafia renal, que é utilizada para detectar patologias ao nível do sistema urinário. Estes exames são determinantes na detecção precoce de doenças neste sistema, permitindo que se inicie o tratamento o mais cedo possível. Isto por sua vez contribui para melhorar a saúde e a qualidade de vida da criança, e também o ambiente familiar em que esta se insere.
Apesar da quantidade de radiação utilizada nestes exames ser baixa, estes são realizados em elevado número. Para além disto, as crianças são mais sensíveis a radiações que os adultos, o que explica a necessidade de compreender melhor a acção da radiação ionizante nos pacientes destas faixas etárias, para que o exame seja realizado da maneira mais adequada.
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Um exemplo de uma campanha internacional ‘Image Gently’ de consciencialização de profissionais e educadores para a necessidade de adaptar a crianças os equipamentos que usam radiação. |
O problema coloca-se de imediato com o facto de a maioria dos modelos existentes para a determinação da quantidade de radiação absorvida pelo corpo humano, isto é, da dose, serem sobretudo desenvolvidos para adultos, que podem ou não ter funções renais diferentes das crianças, cujo metabolismo ainda está em desenvolvimento. Por outro lado, a anatomia de um adulto é diferente da de uma criança. Existe assim uma grande possibilidade de o cálculo de quantidade de radiação na população pediátrica estar a ser estimado incorrectamente.
O estudo
Por esta razão, investigadores do C2TN, em colaboração com a Fundação Champalimaud (equipa liderada pelo Dr. Durval Costa), resolveram realizar um estudo observacional. Estando cientes da vital importância da realização destes exames nos pacientes pediátricos, pareceu-nos relevante analisar e quantificar em detalhe a radiação que estes recebem. Este estudo permitiu não só melhorar os procedimentos em si, como também consciencializar os profissionais de saúde e a população em geral para o tema das radiações.
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Exemplo dos dados obtidos durante um estudo observacional que permitiu compreender melhor o metabolismo renal das crianças. |
Assim, realizou-se um estudo observacional em 22 crianças que tinham sido inicialmente encaminhadas para o serviço de Medicina Nuclear da Fundação Champalimaud para a realização de cintigrafias renais. Como parte do procedimento, foi injectado a estas crianças um radiofármaco que permite visualizar o metabolismo dos rins, sendo que a quantidade de radiofármaco administrada é baseada num modelo presumivelmente optimizado apenas para adultos. Após ser injectado, este radiofármaco distribui-se pelo corpo todo da criança, concentrando-se nos rins. É então efectuada a leitura desta concentração numa câmara gama - equipamento que permite detectar e medir radiação. Utilizando um conjunto de fórmulas matemáticas, foi possível inferir o valor exato de dose a que as crianças foram expostas. Os resultados obtidos permitiram confirmar que efectivamente o modelo normalmente utilizado subestima largamente a dose à qual as crianças estão sujeitas nestes procedimentos, em especial as mais pequenas. Através deste estudo observacional foi possível, por um lado, compreender em maior detalhe o metabolismo destas crianças comparativamente ao metabolismo dos adultos, e por outro, determinar factores de cálculo de dose apropriados para crianças e não para adultos.
Este estudo permitiu ainda desenvolver um modelo para o cálculo da actividade de radiação baseado no peso e na altura de uma criança. Este modelo é mais exacto que os modelos utilizados anteriormente. Com este modelo esperamos contribuir para que as doses em crianças sejam determinadas de maneira mais apropriada quando submetidas a exames de cintigrafia, maximizando a utilidade do exame e minimizando os efeitos indesejados para o paciente!
Trabalho da autoria de Pedro Teles.
Sabia que há fontes naturais e artificiais de radiações ionizantes? E sabe que uso é que se pode dar às radiações ionizantes? Nós explicamos!
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês publicámos o perfil de 6 investigadoras do C2TN. Hoje encerramos esta série com a nossa última investigadora, Ana Fernandes.
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês publicaremos o perfil de 6 investigadoras do C2TN. Esteja atento! Deixamo-vos hoje com a nossa próxima investigadora, Leonor Maria.
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês publicaremos o perfil de 6 investigadoras do C2TN. Esteja atento! Deixamo-vos hoje com a nossa próxima investigadora, Ana Belchior.
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN
celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela
excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês
publicaremos o perfil de 6 investigadoras do C2TN.Esteja atento! Deixamo-vos hoje com a nossa próxima investigadora, Helena Casimiro.
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês publicaremos o perfil de 6 investigadoras do C2TN.Esteja atento! Deixamo-vos hoje com a nossa próxima investigadora, Rita Melo.
Rita Paiva de Melo licenciou-se em Engenharia Química, pela Universidade Nova de Lisboa, em 2003 e concluiu a sua tese de doutoramento em Química Tecnológica pela Universidade de Lisboa, em 2012. É investigadora no Grupo de Ciências Radiofarmacêuticas, do C2TN-IST, e dedica-se ao desenvolvimento de partículas virais baseadas no HIV para aplicação em teranóstica combinando métodos computacionais e experimentais para investigação desses sistemas à nanoescala.
Quando me pediram para escrever sobre o meu percurso científico pensei: “Ena, Rita, estás a ficar crescida!”. Foi assim que passaram os últimos 15 anos da minha vida: felizes e a correr!
Tudo começou em 2003. Licenciei-me em Engenharia Química e, enquanto estava a acabar o curso, aproveitei para trabalhar num grupo de I&D no departamento de Engenharia Química da FCT, UNL. Foi então que uma Professora me propôs um estágio no grupo de Tecnologias de Radiação, no ITN (hoje conhecido por C2TN). Mal sabia eu que era ali que me ia apaixonar pela ciência.
Assim comecei o meu percurso, fiz o mestrado em Gestão Ambiental, depois doutorei-me em Química Tecnológica, sempre com o foco na otimização do tratamento de águas residuais industriais. Pelo caminho envolvi-me em vários projetos internacionais que me permitiram trabalhar pelo mundo: no Brasil, na Hungria e nos EUA. Tive muita sorte, fui parar a um grupo de pessoas incríveis que me “obrigou” a sair tantas vezes da zona de conforto e, com isso, a crescer. Fomos, juntas, resistentes e resilientes.
Com a vontade de querer ir mais além, em 2014, depois de acabar o doutoramento e após um período de 6 meses no ITQB, mudei de área. Saí da área do Ambiente e fui para a Radiofarmácia com o desafio do desenvolvimento de partículas virais como vetores de drogas e/ou radionuclídeos citotóxicos para aplicações na teranóstica do cancro. As partículas virais são “vírus vazios”, ou seja, têm a estrutura molecular que constitui o vírus e com isso pode aproveitar-se a sua imunogenicidade, mas sem o material genético e assim não são infeciosas. Além disso, a conjugação de anticorpos à superfície da partícula viral aumenta a sua especificidade para um determinado alvo, como células tumorais.
Em 2015 agarrei a valência da química computacional e é neste caminho que me perspetivo no futuro, nesta abordagem estrutural multidisciplinar, combinando métodos computacionais e experimentais para investigação destes sistemas à nanoescala, aumentando a especificidade das partículas virais para diferentes tipos de cancro. Para isso, o contacto com a parte clínica é fundamental e é nesse sentido que queremos caminhar, na investigação translacional.
É muito gratificante saber que o nosso trabalho pode, de alguma forma, contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas, fazer a diferença. É nessa diferença que muitas vezes nos temos de focalizar quando somos constantemente desafiados na incerteza da nossa carreira, do nosso futuro. É ser cientista com nanopartículas e vírus vazios e células e radiações e, a partir das 18h, tirar a bata e ir buscar as filhas à escola, dar banhos, fazer jantares saudáveis, contar histórias de adormecer e tantas vezes voltas ao computador quando elas já dormem... Ser feliz na ciência é um desafio diário e acredito, sempre, que o futuro será promissor.
Da autoria de Rita Melo
Da autoria de Rita Melo
Rita Paiva de Melo graduated in Chemical Engineering from Universidade Nova de Lisboa in 2003 and has received her PhD in Technological Chemistry, in 2012, from University of Lisbon. Currently, she is a researcher in the Radiopharmaceutical Sciences Group from C2TN-IST and dedicates herself to the development of HIV-based viral particles for theranostics applications, combining experimental and computational methods to investigate those systems at the nanoscale.
When I was asked to write about my scientific path, I thought, "Yay Rita, you're growing up!" That's how the last 15 years of my life have gone by: fast and happily!
It all started in 2003. I graduated in Chemical Engineering and in the meanwhile I took the opportunity to work in an R & D group in the Chemical Engineering Department of FCT, UNL. It was then that a Professor proposed me an internship in the Radiation Technologies Group, at ITN (known today as C2TN). I have never dreamt that it was there that I was going to fall in love with science.
Then, I finished a master's degree in Environmental Management, and received my PhD in Technological Chemistry, focusing on the optimization of industrial wastewater treatment. On the way I got involved in several international projects that allowed me to work around the world: in Brazil, Hungary and the USA. I was very lucky I went to a group of incredible people that forced me to leave my comfort zone very often and with that, to grow. We were together, resistent and resilient.
Aiming to go further, in 2014, after finishing my PhD and after a period of 6 months at ITQB, I left the work field of Environment and went to Radiopharmacy with the challenge of developing viral particles as vectors of cytotoxic drugs and/or radionuclides for cancer therapeutics applications. Viral particles are "empty viruses", which means that they have the molecular structure that constitutes the virus, thus keeping their immunogenicity, but without the genetic material so they are not infectious. In addition, conjugation of antibodies to the surface of the viral particle increases its specificity to a particular target, such as tumor cells.
Aiming to go further, in 2014, after finishing my PhD and after a period of 6 months at ITQB, I left the work field of Environment and went to Radiopharmacy with the challenge of developing viral particles as vectors of cytotoxic drugs and/or radionuclides for cancer therapeutics applications. Viral particles are "empty viruses", which means that they have the molecular structure that constitutes the virus, thus keeping their immunogenicity, but without the genetic material so they are not infectious. In addition, conjugation of antibodies to the surface of the viral particle increases its specificity to a particular target, such as tumor cells.
In 2015, I grabbed the chance to work in the computational chemistry field and it is on this path that I prospect myself in the future: on the multidisciplinary structural approach, combining computational and experimental methods to investigate these systems at the nanoscale and increase the specificity of the viral particles for different types of cancer. For this, being in contact with the clinical aspects of this work is fundamental and therefore that is the direction we want to take, into translational research.
It is very gratifying to know that our work can somehow contribute to improving people's quality of life, making a difference. It is in this difference that we often have to focus when we are constantly challenged in the uncertainty of our career, our future. I am a scientist working on nanoparticles and empty viruses and cells and radiations and a mother who, at the end of the day, gets her daughters from school, manages their showers, makes them healthy dinners, tells them bedtime stories, and so often goes back to the computer to work when they are already asleep... Being happy in science is a daily challenge but I believe, always, that the future is promising.
Authored by Rita Melo
A pretexto do Dia Internacional da Mulher, que se comemora a 8 de Março, o C2TN celebra as suas mulheres cientistas que se afirmam e destacam pela excelência do seu trabalho e pelo impacto do mesmo. Ao longo deste mês publicaremos o perfil de 6 investigadoras do C2TN.Esteja atento! Deixamo-vos hoje com a nossa primeira investigadora, Dulce Belo.
"Património: onde o passado encontra o futuro"
É sob este lema que se celebra, pela primeira vez, o Ano Europeu do Património Cultural. Esta iniciativa da União Europeia tem em vista a consagração e sensibilização das populações para a história e o património europeu, uma iniciativa a ser aplicada a todos os níveis: europeu, nacional, regional e local. O C2TN decidiu abraçar esta iniciativa através de uma série de artigos de divulgação do trabalho que se faz no nosso centro, que serão publicados ao longo do ano. Do que está à espera? Venha descobrir e explorar o património cultural de Portugal connosco. Aqui vos deixamos o primeiro artigo.
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Tesouros da antiguidade enterrados em território nacional
Após mais de 2500 anos “escondidos” em três sepulturas da I Idade do Ferro, uma colecção de pendentes e contas de colar de ouro foi agora estudada através de métodos não invasivos, revelando-nos importantes pistas sobre a arte de produção de joalharia pelos ourives da época.
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Há mais de 2500 anos, mais precisamente na I Idade do Ferro, três indivíduos foram sepultados na região hoje conhecida como Alentejo. Com eles foram também depositados diversos tesouros. Esta herança arqueológica permaneceu escondida durante mais de dois milénios, até 2013, ano em que foi descoberta, na sequência da construção de sistemas de rega associados à Barragem do Alqueva. Os tesouros encontrados “sobreviveram” ao passar do tempo e, através de tecnologias nucleares, contam-nos hoje coisas do nosso passado.
Em 2013, a arqueóloga Lídia Baptista, coordenadora das escavações arqueológicas no sítio do Monte do Bolor 1-2 (São Brissos, Beja), descobre diversas sepulturas com importantes espólios funerários – contas de colar, pendentes, pulseiras e anéis. Nesta época era comum sepultar os indivíduos com os seus pertences e dádivas funerárias, sendo esta uma demonstração do seu estatuto. Não é então difícil deduzir que espólios mais ricos pertenceriam a líderes daquelas comunidades. De facto, num dos enterramentos estudados descobriu-se uma mulher sepultada com onze contas de ouro sob o crânio, sugerindo que deveria ser hierarquicamente importante. Ao lado deste enterramento foi também identificada outra sepultura, parcialmente violada, mas que continha ainda um pendente de ouro.
Simultânea (e curiosamente), nesse mesmo ano, o arqueólogo Ever Calvo coordenava escavações arqueológicas a menos de 25 km de distância, num outro local, a Quinta do Castelo 5 (Salvador, Beja). Aqui, os trabalhos identificaram também uma sepultura com um vasto espólio, incluindo onze contas e três pendentes de ouro, dispostos igualmente em redor e sob o crânio do esqueleto.
Uma das primeiras conclusões a que se chegou é que a extraordinária semelhança entre as sepulturas e os espólios funerários revela que os enterramentos deverão ser contemporâneos. Os espólios funerários – jóias de ouro e outros ornamentos em prata, âmbar, vidro e faiança Egípcia – permitiram ainda dar resposta à questão ‘De quando datam estas sepulturas?’, pois enquadram-nas nos séculos VII-VI a.C., correspondendo à I Idade do Ferro (c. 850-400 a.C.).
Para além disto, o facto de se terem encontrado jóias muito parecidas em locais diferentes fez surgir uma hipótese: terão as jóias de ouro que adornavam os indivíduos sepultados em dois locais diferentes sido produzidas na mesma oficina metalúrgica?
Como se estudou esta hipótese?
A primeira fase consistiu na identificação dos componentes individuais de cada jóia através de observações por microscopia óptica, pois esta técnica permite observar objectos muito pequenos com grande detalhe.
Contas: Monte do Bolor 1-2 vs. Quinta do Castelo 5
Verificou-se que as contas esféricas apresentam o mesmo modelo constituído por quatro componentes: duas chapas hemisféricas ornamentadas por dois fios de ouro (técnica de decoração em filigrana, introduzida pelos Fenícios na Península Ibérica). No entanto, a filigrana utilizada em cada um dos dois conjuntos é diferente, pois os exemplares do Monte do Bolor 1-2 apresentam um fio maciço torcido, enquanto nos paralelos da Quinta do Castelo 5 foi utilizada filigrana oca enrolada.
Pendentes: Monte do Bolor 1-2 vs. Quinta do Castelo 5
Os pendentes apresentam também o mesmo esquema conceptual mas com detalhes diferentes. Em comum, cada exemplar exibe uma chapa traseira plana e uma chapa frontal decorada, ambas circunscritas por filigrana de fio maciço torcido. Por oposição, o suporte é ornamentado por filigrana de diferente tipo: fio maciço no pendente do Monte do Bolor 1-2 e filigrana oca enrolada nos exemplares da Quinta do Castelo 5.
O segundo passo deste estudo consistiu na determinação da composição elementar dos componentes de cada jóia. Isto é, em descobrir quais os metais usados no seu fabrico, como sejam o ouro, prata e cobre. Esta análise é obtida pela técnica de micro espectrometria de fluorescência de raios X, dispersiva de energias, realizada no âmbito de uma colaboração com o Departamento de Conservação e Restauro (FCT-NOVA). Como funciona esta técnica? Ao serem irradiados por raios X, os átomos que compõem a amostra vão emitir radiação característica, que permite a sua identificação e quantificação.
Composição das jóias da Quinta do Castelo 5
As contas e pendentes do espólio da Quinta do Castelo 5 apresentam uma composição bastante uniforme (17-18 quilates), o que reforça a ideia de terem uma origem comum, ou seja, de terem sido produzidas na mesma oficina metalúrgica.
Composição das jóias do Monte do Bolor 1-2
Nos exemplares do Monte do Bolor 1-2 foi identificada uma situação algo distinta, pois as ligas são ligeiramente diferentes: a composição do pendente é de 14-15 quilates, enquanto a das contas é de 13 quilates. Isto sugere que o pendente e o conjunto de contas poderão ter sido produzidos na mesma oficina, mas em alturas diferentes ou por ourives diferentes.
Oficinas de ourives na I Idade do Ferro
Nesta joalharia antiga, é provável que a adição de quantidades elevadas de prata (até 40 %) fosse uma forma de poupar na matéria-prima mais preciosa: o ouro. Mas, ao utilizar elevadas quantidades de prata, as ligas de ouro exibiriam uma cor amarela pálida. Então, é possível que a utilização de cobre (2-4 %) fosse uma tentativa de obter uma liga com um tom mais dourado, de forma a imitar mais fielmente o brilho do ouro puro.
As diferenças encontradas nas ligas de ouro e nos métodos de produção sugerem que as jóias da Quinta do Castelo 5 e Monte do Bolor 1-2 têm uma origem distinta. Ou seja, muito provavelmente estas jóias foram produzidas em duas oficinas de ourives, apesar da grande proximidade dos recintos funerários onde foram descobertas.
Por outro lado, as semelhanças na composição elementar e métodos de produção entre o pendente e conjunto de contas do Monte do Bolor 1-2 reforçam a relação entre os dois indivíduos sepultados no mesmo recinto funerário. É assim fácil imaginar que seriam parentes próximos e que provavelmente pertenciam à família que liderava esse povoado.
Estes indivíduos poderiam permanecer incógnitos para sempre, mas o espólio encontrado e o trabalho desenvolvido no C2TN revelou algo sobre eles e a sociedade em que se inseriam. Decerto, permite perceber um pouco mais sobre os métodos de produção de joalharia durante a I Idade do Ferro no Sul de Portugal. Tal só foi possível cruzando conhecimento das áreas da arqueologia, química e ciência das radiações. Estudos futuros poderão descobrir mais informação para completar esta história sobre quem, milénios antes, viveu nas mesmas terras em que nós hoje vivemos.
Quer saber mais sobre este trabalho? Não hesite em contactar-nos ou obtenha mais informação no nosso site!
Trabalho da autoria de Pedro Valério
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Ancient treasures buried in the Portuguese territory
A collection of gold pendants and beads “hidden” more than 2500 years ago in three graves from the Early Iron Age has now been studied through non-invasive methods, revealing important leads on the art of production of jewellery by ancient goldsmiths.
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More than 2500 years ago, more precisely during the Early Iron Age, three individuals were buried in the Portuguese region known today as Alentejo. With them several treasures were equally buried. This archaeological heritage remained hidden for over two millenniums up until 2013, when it was found as a result of the construction of an irrigation system connected to the Alqueva Dam. The treasures found have survived to the course of time and, through nuclear analytical techniques, give us today hints from our past.
In 2013, the archaeologist Lídia Baptista, who directed the archaeological excavations at Monte do Bolor 1-2 (São Brissos, Beja), discovered several burials containing important grave goods – beads, pendants, bracelets and rings. At this time, it was common to bury people with their possessions and funerary offerings, as a demonstration of status. It is easy to assume that richer spoils belonged to the leaders of those communities, such as a woman buried together with eleven gold beads under her skull, suggesting a higher hierarchy. Next to this grave, another one was identified, although partially disturbed and containing still a gold pendant.
Simultaneously (and curiously), in that same year, the archaeologist Ever Calvo directed archaeological excavations less than 25 km afar, in another site: Quinta do Castelo 5 (Salvador, Beja). The work here developed allowed the identification of a grave with an impressive set of grave goods, comprising eleven beads and three gold pendants, also placed on the skull of the skeleton.
The remarkable similarities between these funerary contexts and between their artefacts indicate that the burials are very likely to be contemporary. Moreover, the grave goods – gold jewellery and other ornaments made of silver, amber, glass and Egyptian faience – allowed to answer the question “From when are these burials?”, as they imply a chronology of the 7th-6th century BC, thus belonging to the Early Iron Age (c. 850-400 BC).
Besides this, the fact that very similar jewellery was found in different locations has led to the following hypothesis: were the golden jewels found in the individuals buried in two different locations produced in the same metallurgical workshop?
How was this hypothesis tested?
The initial stage of the study consisted in identifying the individual components of each jewel through optical microscopy observations since this technique allows examining in great detail very small objects.
Beads: Monte do Bolor 1-2 vs. Quinta do Castelo 5
It was established that the spherical beads of Quinta do Castelo 5 and Monte do Bolor 1-2 have the same design, consisting of four individual components: two hemispherical sheets decorated by two filigree wires (decoration technique introduced in the Iberian Peninsula by the Phoenicians). However, the type of filigree used in each one of these sets is different: the beads of Monte do Bolor 1-2 have a twisted wire, while the counterparts of Quinta do Castelo 5 show a hollow wire.
Pendants: Monte do Bolor 1-2 vs. Quinta do Castelo 5
The pendants also exhibit a single design with components of different type: a decorated front plate and a flat reverse plate, being both circumscribed by twisted wire filigree. However, each support is decorated with different filigree wires: massive wires in pendant of Monte do Bolor 1-2 and hollow filigree in pendants of Quinta do Castelo 5.
The second stage of this study entailed the identification of the elemental composition of the individual components of each jewel, i.e. on determining which metals (gold, silver and copper) were used for the production of such jewellery. This analysis was possible through micro energy dispersive X-ray fluorescence spectrometry performed in the framework of collaboration with Department of Conservation and Restoration (FCT-NOVA). How does this technique work? The atoms constituting the sample are irradiated with X-rays, thus emitting characteristic radiation that in turn allows their identification and quantification.
Composition of jewels from Quinta do Castelo 5
The beads and pendants from Quinta do Castelo 5 have a homogeneous composition (17-18K gold) suggesting the manufacture of this treasure in a single metallurgical workshop.
Composition of jewels from Monte do Bolor 1-2
A somewhat different situation was identified in the set of Monte do Bolor 1-2 as the alloys showed slightly different grade: the pendant’s composition is of 14-15K gold whereas the beads’ composition is of 13K gold. They have been probably produced at the same workshop although by different goldsmiths or at different times.
Gold workshops of the Early Iron Age
In the manufacture of this ancient gold jewellery the addition of high quantities of silver (up to 40 %) was a way of saving the most precious raw material: gold. However, as a consequence, the jewels would have a fairly pale yellow colour. And that is very probably the reason why they would also add copper (2-4 %), as an attempt to obtain a shinier golden colour.
The differences found both in the gold alloys and in the production methods indicate that the jewels from Quinta do Castelo 5 and Monte do Bolor 1-2 have a distinct origin. This means that, very probably, the jewels were produced in two gold workshops, in spite of the great proximity between both archaeological sites.
Moreover, the similarities between the pendant and beads from Monte do Bolor 1-2 strengthen the relationship between the two individuals buried in this necropolis. One can imagine that these persons were close relatives, probably belonging to the high hierarchy that ruled a settlement located near this location.
These individuals could have remained anonymous forever, but the grave goods carefully studied in C2TN, disclose some clues about them and their society. For sure this work has allowed us to better understand the production methods of gold jewellery during the Iron Age in south Portugal. This was only possible by interconnecting archaeological, chemical, and radiation sciences knowledge. Future studies may lead to further information to complete this story about who, millennia before, lived in the same places we live today.
Want to know more? Do not hesitate to contact us or check out our website for more information!
Work authored by Pedro Valério